Esconde - Esconde que não gosto de brincar.

Esconde - esconde...

Vivo me escondendo de um mundo que não posso me esconder, pois sou sempre achado, e quando me acham me usam, me batem, me exploram. Tento me esconder até mesmo quando estou dormindo, mas mesmo assim me acham, me exploram, me usam, e me batem. Se eu não quiser brincar do jeito que eles querem, me batem. Acho que não sei brincar do esconde-esconde, pois sou sempre achado. Queria ser bom, para me esconder e nunca mais ser achado. Pois quando me acham, me batem, me usam, me exploram. Brincam comigo de coisas que não gosto de brincar. Brincam comigo, mas fica machucado e doendo por fora e por dentro. Brincam comigo em qualquer horário. Será que todos que brincam do esconde-esconde também é desse jeito? Acho que não! Pois a brincadeira que escuto dos meus amiguinhos quando estão conversando é bem diferente, é legal. O esconde-esconde que eles brincam é com os próprios amigos, eles correm, pulam, gritam, riem, se escondem em vários cantos, e alguns nem são achados, eles contam para todo mundo como que eles brincam, gostaria de algum dia brincar igual a eles, pois quando brincam comigo é sempre em quartos, que muitas vezes estão escuros, não posso falar para ninguém porque eles falam que vão me bater, é uma brincadeira que não dá vontade de sorrir, mas faz a gente chorar muito.

Não quero mais ir para escola, sair na rua, brincar com meus amigos, queria apenas me esconder para nunca mais ser achado, não quero mais ser usado, espancado, torturado, fazer coisas que me machucam e nem posso falar.

A brincadeira que tenho contato é a realidade de ter que me esconder da injusta vida que tenho, brinco do esconde-esconde com a violência sexual dentro da minha casa. Será que é pedir muito poder brincar do esconde-esconde que meus amiguinhos contam.

Quem brinca comigo é sempre quem estar perto de mim, é parentes, amigos da família, vizinhos. Eles brincam comigo sem perguntar se eu quero brincar, mesmo sem perguntarem sempre falo que não quero brincar, mas eles nunca me escutam. Sou apenas uma criança que queria um brinquedo, chocolate, passear, ir ao parque, ao cinema, brincar como uma criança brinca de verdade, mas a única brincadeira que conheço e não gosto é o esconde-esconde que sempre sou achado dentro da minha casa. Queria ser bom para nunca mais ser achado. (Texto: Leonardo de Alencar Barbosa Fleming – Presidente da CCBEM, dedicado para todas as crianças do mundo, as que são respeitadas como crianças e as que são arrancadas dessa fase sem nenhum escrúpulo. Criança, maior objetivo da nossa missão).